02/03/24:
“- Eu nunca imaginei que isso aconteceria comigo.
-O quê?
-Isso [ela aponta para os equipamentos]. Que a Amara decidisse fazer isso sobre mim.”
Não existe documentário, a não ser que tudo o seja.
03/03/24:
Hoje a Maria me apresentou como neto dela. E, ironicamente, eu perdi o aniversário da Nonna, que aconteceu durante o filme.
Acho que quanto menos a gente fala, reflete em equipe e dá bronca, melhor fica.
O melhor conselho: filmar como se eu fosse um mestre japonês. Importante o nada, a contemplação.
Talvez o Gatti estivesse certo quando disse que “cinema é coisa do demo”. A responsabilidade não é brincadeira.
Mas às vezes é tão gratificante.
Quando eu menos percebi, já estava dirigindo-a como se fosse uma atriz. E, quando menos percebi, o que é interessante ocorria na perda de controle.
04/03/24:
Contei pra Maria a história do meu avô, que morreu internado no Juquery, e ela disse: “quem sabe ele até morreu comigo”.
O maior desafio para um cineasta é manter-se focado no que é essencial.
06/03/24:
Hoje filmei numa Kombi e entendi o porquê dos filmes dos anos 1970 serem mais divertidos.
Senti a Maria um pouco cansada. Talvez eu tenha menosprezado os efeitos que uma memória pode ter sobre alguém. Mas ela está mais honesta comigo, até me xingando do jeito que faz com a Amara.
Me senti uma criança teimosa gravando os planos do jardim – mas foda-se, ficou bonito.
Tudo é documentário, na medida em que é um documento da própria produção.
11/03:
Antes de focar em ser um grande cineasta, deve-se focar em ser um pequeno cineasta.
28/03:
Revendo os materiais e pensando: eu realmente não fazia ideia de onde estava me metendo, de com o que estava mexendo.